Nestes 22 anos que trabalho com desenvolvimento de software, já passei por diversas empresas. Enquanto jovem e ainda começando, eu não ligava muito onde trabalharia, pensava mais no salário que me pagavam. Nesta área tem um pensamento de que você só ganha aumento quando muda de emprego, não sei se isto vale para outras áreas também, mas eu seguia essa regra.
Depois de um tempo, já com um pouco de experiência eu comecei a pensar em estabilidade. Eu não queria pular de emprego a emprego, queria sossegar. E foi o que eu fiz. Arrumei um emprego em que eu via a tal da estabilidade e fiquei por quase 10 anos. A empresa era grande, tinha muitos funcionários, e por um tempo eu pude evoluir profissionalmente. Evoluir no conhecimento do que eu fazia, desenvolver software.
A empresa sendo grande tinha dificuldade de evoluir junto com o meu conhecimento e na velocidade que as tecnologias evoluíam. Eu via e lia muitas coisas interessantes, mas não era possível aplicar o conhecimento. Muitas áreas, muitas pessoas diferentes tomando conta de pequenas partes do processo, tudo muito amarrado. E a coisa começou a ficar monótona.
A estabilidade era, ao mesmo tempo, uma benção e uma maldição. Mas mesmo assim eu fiquei quase metade da minha carreira nesse emprego, eu tinha estabilidade. Fiquei muito tempo preso nessa ratoeira. Até o momento que não aguentei mais e, sentindo o peso de um burnout, pedi as contas. Acabou sendo a melhor coisa que fiz.
Aquela vida não era compatível comigo. Eu não tinha interesse em viver em um emprego que não me satisfazia. Eu estava completamente acomodado. Eu era um espectador da minha própria vida, que estava sendo guiada por forças externas que não ressoavam com que eu era na época. Por escutar tanto sobre estabilidade, trabalho certo, eu deixei que essas opiniões guiassem meu caminho. Eu não parava para pensar se eu era feliz, se aquilo era o que eu queria, eu simplesmente acordava todo dia de manhã e ia trabalhar, como se o que estivesse fazendo ali fosse a coisa mais importante do planeta. Muitas vezes achamos que não temos escolha, nem sempre é verdade. Na maioria das vezes não paramos pensar o que é importante pra gente, o que nós queremos de verdade. Sem saber o que queremos, como vamos tomar pequenas atitudes que nos levem para onde devemos ir? Somos apenas um barco à deriva, deixando a corrente levar.
Depois de tomar a decisão de sair, como um milagre, outros caminhos começaram a se abrir, eu comecei a prestar atenção em volta e reparar mais nas coisas. Fui entendo o que eu queria, seguindo minha intuição. Isso foi me levando por caminhos que hoje fazem a diferença na minha vida.
Atualmente moro na cidade que sempre quis morar, e naquela época era impossível. Tenho uma rotina em que posso estar em contato com a Natureza todo dia de manhã, uma das coisas mais importantes na minha vida. Tenho mais tempo de qualidade com minha família.
Trabalho fazendo a mesma coisa, só mudei a forma como enxergo o trabalho e a minha vida. Comecei a prestar atenção na direção que a vida está me levando, para ver se é a direção que eu quero ir. Agora eu tenho uma direção a seguir, sei o que quero e o que não quero, tento não viver da maneira que dizem ser a melhor para mim. Eu decido. Eu busco ativamente fazer uma auto avaliação para saber se estou realmente feliz da forma como estou vivendo. Ainda tenho meus altos e baixos com meu trabalho, mas com o equilíbrio que busco, consigo levar de forma mais leve.
A vida não ficou mais fácil, ainda apresenta um milhão de desafios, mas eu tenho um pouco mais de tranquilidade para olhar eles no olho e tomar uma decisão mais acertada e não ficar com medo e vivendo acomodado, sem me arriscar ou seguir minha intuição.