Após um burnout em 2016, no final do ano saí com a família para uma viagem de carro transformadora pelo Uruguai, Argentina e Chile. Esta viagem permeou meus sonhos por décadas até, finalmente, ser realizada. Quando chegou o momento de planejar, nem precisei pensar muito no roteiro, cada cidade já estava em minha cabeça, por conta dos inúmeros relatos e vezes em que eu “quase” fiz o roteiro.
A princípio ia ser de ônibus, depois de moto e acabou sendo de carro, com minha esposa e meus 2 filhos. Mas não foi menos excitante. Ver os olhos deles vidrados nos lobos marinhos, caminhando junto com pinguins, quase sendo derrubados pelo vento na patagônia e explorando o deserto do Atacama, não tem preço. Valeu cada momento da espera. Tudo acontece no momento que tem que acontecer.
Fizemos sem pressa e seguindo no ritmo que queríamos seguir. Passamos muitas noites acampados em lugares surpreendentes, como em Puerto Madryn – que acampamos na noite de natal, Torres del Paine – na entrada do parque em um local super estratégico e lindo a beira de um rio, em El Chaltén – quando o vento quase derrubou nossa barraca, em Puerto Varas – à beira de um lago com um vulcão ao fundo, ou na Bahía Inglesa – no litoral do Chile. São muitas memórias e muitas experiências.
A cada ano que passa as memórias ficam mais vívidas. Aventuras assim são as que fazem a vida valer a pena, e nos transformam. Para mim, essa foi a que trouxe a cura de um burnout.
Dados da Expedição
Distância: + de 16.000km
Data de Início: 10/12/2016
Duração: 78 dias
Veículo: Suzuki Grand Vitara 4×4
Países: 3
Integrantes: 4
Itinerário
Rota
Teresópolis (RJ) → Ilhabela (SP) → Morretes (PR) → Osório (RS) → Chuí (RS) → Punta del Diablo (UY) → Punta Del Este (UY) → Colônia del Sacramento (UY) → Buenos Aires (via buquebus) (AR) → Bahia Blanca (AR) → Puerto Madryn (AR) → Rio Gallegos (AR) → Ushuaia (AR) → Punta Arenas (CL) → Torres del Paine (CL) → El Calafate (AR) → El Chalten (AR) → Bariloche (AR) → Osorno (CL) → Puerto Montt (CL) → Los Andes (CL) → La Serena (CL) → Bahia Inglesa (CL) → PN Pan de Azúcar (CL) → Antofagasta (CL) → San Pedro de Atacama (CL) → Paso de Jama (AR) → Susques (AR) → San Salvador de Jujuy (AR) → Humahuaca (AR) → Salta (AR) → Foz do Iguaçu (PR) → Teresópolis (RJ)



Destaques
01 Cruzando a estrada do inferno
No Sul do Brasil, no rio Grande do Sul, perto de Mostardas, existe uma estrada que já foi chamada de estrada do inferno. Desde que ouvi este nome pela primeira vez, fiquei com vontade de passar pelo local. Hoje já não é mais a estrada do inferno, já está asfaltada e não é complicado atravessá-la.
No caminho passamos pelo parque nacional da Lagoa do Peixe, onde pudemos andar – pela primeira vez – por dunas, até chegar à praia. Foi uma experiência muito legal para as crianças e para nós. De lá seguimos até São José do Norte, onde pegamos a balsa para a cidade de Rio Grande, e continuamos nosso caminho para o Chuí pela estação ecológica do Taim.
02 Cruzando do Chuí para o Uruguai
O Brasil e o Uruguai tem uma fronteira bem confusa no Chuí. A estrada principal, de um lado, é do Brasil, com Banco do Brasil, Correios, etc. Do outro já é o Uruguai, com as lojas todas falando em espanhol. Fomos seguindo pelas ruas da cidade e quando percebemos já estávamos no Uruguai e não tínhamos feito a Aduana. Voltamos e seguimos o caminho correto para dar entrada ao País.
No Uruguai passamos por Punta del Diablo, acampamos em Punta del Este, conhecemos Colônia del Sacramento e cruzamos de Buquebus para a Argentina.
03 Natal em Puerto Madryn
Em Puerto Madryn, passamos um natal inusitado. Nosso dia começou visitando a península Valdez. Rodamos por toda sua extensão, visitando lobos marinhos e pinguins. Avistamos Guanacos e diversos outros animais.
Após rodar pela península, voltamos para o camping em que estávamos e ele estava lotado. Diversas famílias, avós, pais, filhos e netos, acampando. No geral, na Argentina, os campings têm espaço separado para cada barraca, com espaço para o carro e a barraca. Eles tem uma mesa e uma churrasqueira também. Nesta noite todas as famílias faziam seu asado, menos nós. rsrrs
As crianças fizeram diversos amigos. No início das brincadeiras, o idioma foi uma barreira, mas logo essa barreira sumiu e eles brincaram a noite toda. Foi uma noite de natal memorável.
04 Punta Tombo
Saindo de Puerto Madryn, passamos pela pinguinera Punta Tombo. Onde os pinguins andam livremente entre nós por todo o local. Pinguins do tamanho das crianças andando junto com eles. Incrível ver os olhos deles admirados com essa situação.
05 Fim do mundo
Chegar ao Ushuaia teve uma simbologia muito grande. Chegar na cidade mais austral do planeta, no fim do mundo. Algo que foi sonhado por muitos anos. De repente estávamos olhando o canal de Beagle, onde Darwin navegou muitos anos antes. Caminhamos pelo glaciar martial, onde o Theo viu neve pela primeira vez.
Passamos o Réveillon por lá, e o ano virou com o sol ainda se pondo. As crianças estavam com muito sono, mas sem querer dormir, pois ainda estava claro. Não poderia ter lugar melhor para passar a virada do ano.



06 Problema na bateria do carro
Ao visitar o Parque Nacional Tierra del Fuego tivemos um problema na bateria do carro, que não queria ligar. Como estávamos afastados da cidade, ficamos um pouco apreensivos com a situação. Foi a primeira vez que tivemos algum problema e tivemos que nos virar no espanhol. Parando os carros e tentando descobrir como falar “cabo de bateria” em outro idioma. Acabamos conseguindo uma ajuda e o carro ligou novamente.
Quando estávamos saindo de Ushuaia, em direção à Punta Arenas, ainda na cidade, tivemos o mesmo problema ao abastecer. Já sabendo pedir um cabo de bateria, dessa vez foi mais fácil. Tivemos este problema mais algumas vezes em alguns lugares mais frios pela manhã.
Parece que as baterias que normalmente rodam em lugares quentes, tem alguma dificuldade em lugares frios. Em Esquel, mais acima, perto de Bariloche, trocamos a bateria do carro, pois o problema de ligar foi ficando mais constante.
07 Ventos patagônicos em Torres del Paine
Mais um lugar icônico que queríamos visitar. Ver os cuernos del paine da estrada foi bem emblemático. Visitamos diversos lugares por lá, um deles foi o lago grey, para ver o glaciar grey. Os ventos tinham uma força muito grande e as crianças tinham muita dificuldade de caminhar. Até eu e Fernanda sentíamos bem o vento.
Atravessamos uma ponte onde a Fernanda teve que ficar segurando a mão das crianças para elas conseguirem seguir até o outro lado.
08 Glaciar Perito Moreno
Na Patagônia não tem lugar comum, ou mais ou menos. E o glaciar Perito Moreno não é diferente. Ele fica próxima a cidade de El Calafate, que é uma cidade muito legal. Ficamos em um camping bem perto do centro.
O glaciar é diferente de tudo que já tínhamos visto. Ele impressiona pelo seu tamanho. Fizemos a caminhada pelo parque e também fizemos um passeio de barco, onde passamos muito perto do glaciar.
09 Trilha do Fitz Roy em El Chaltén
El Chaltén é uma vila ao pés do imponente Fitz Roy. A estrada que leva até a cidade mostra as lindas montanhas que compõem o maciço. Fitz Roy, Cerro Torre, Aguja Poincenot. Depois de ler diversos relatos sobre as difíceis escaladas a estes lugares, estava lá.
Ficamos em um camping à beira do rio de las vueltas, onde o vento que descia das montanhas à noite balançou a barraca de todas as maneiras. Acordamos cobertos de areia. Fernanda ficou com as crianças pela cidade e conhecendo os lugares e eu saí cedo para a trilha do Fitz Roy.
A trilha não é complicada, é longa e sobe bastante. As vistas são incríveis. Dei a sorte de fazê-la no primeiro dia de uma grande janela de dias bons. Diversos escaladores que iam tentar a sorte na montanha passavam por mim, com suas mochilas cheias.
No fim da trilha, para chegar ao mirante do Fitz Roy é necessário subir uma montanha de pedras soltas, bem íngreme. No final avistamos a montanha imponente com suas duas lagunas de degelo, de cor azul aos pés. A vista é mais do que incrível.
Voltei no fim da tarde, a Fernanda me buscou no final da trilha e fomos comer alguma coisa. Passamos mais uma noite por lá e seguimos viagem.
10 Sem gasolina na Ruta 40
Saindo de El Chalten nosso destino era Bariloche. Mas para chegar lá precisaríamos dormir em alguns pontos na estrada. A primeira cidade que íamos dormir era Perito Moreno, distante aproximadamente 590 km de El Chaltén.
Para chegar lá decidimos pegar a famosa Ruta 40. Sabíamos que não teríamos muitas opções de abastecimento pelo caminho, mas vimos que em Bajo Caracoles, tinha um posto, e seria a distância perfeita para abastecermos e chegarmos sem problema em Perito Moreno.
Entramos na ruta 40 e fomos seguindo pelo rípio, aproveitando cada paisagem e cada momento da viagem. Parando a toda hora para apreciar a paisagem e tirar fotos. Chegamos em Bajo Caracoles com pouca gasolina e nos dirigimos para o posto. Descobrimos que o posto não tinha gasolina, as bombas estavam todas sem combustível e o caminhão com gasolina só chegaria no dia seguinte, em algum momento, que não sabíamos qual.
Bajo Caracoles era uma vila bem pequena e diversos viajantes estavam por lá, os hotéis estavam todos cheios, e a loja de conveniência do posto estava cheia. Enquanto pensávamos, Fernanda foi com as crianças para a loja comprar alguma coisa para comer e eu fiquei ali pelo lado de fora.
Fui conversar com o frentista, jogar conversa fora. No meio da conversa ele me fala que tinha um galão de 5 litros, que ele sempre guardava para essas ocasiões e disse que poderia me vender. Um argentino que estava perto da gente entrou na conversa e quis atravessar a negociação. Ele informou que tinha 2 galões.
Abastecemos e conseguimos chegar ao nosso destino, quase sem gasolina novamente.
11 Região dos lagos
Esta região é incrível e o caminho para chegar lá também. Saindo de Perito Moreno, fomos a Esquel, uma cidade muito charmosa. Saímos tarde de Esquel, pois trocamos a bateria do carro e fomos até El Bolsón, onde estava acontecendo um festival e a cidade estava fervilhando. Ficamos pela cidade conhecendo e vendo o movimento. Resolvemos dormir por lá e não conseguimos, todos os campings estavam cheios e os hotéis também.
À noite, acabamos encontrando uma pessoa que nos levou para um chalé no meio das montanhas e não conseguimos ver nada, além do farol. O chalé era incrível, todo madeiro e muito arrumadinho, bem típico do local. Quando acordamos fomos para o lado de fora e a vista era incrível.
Aproveitamos uma manhã lenta e seguimos para Bariloche, que também estava bem agitada. Muita gente na praça principal. Em Bariloche queríamos ficar alguns dias, para lavar roupas, organizar as coisas e dar uma descansada da estrada também, por isso queríamos ficar em uma casinha, onde tivéssemos espaço para organizar todas as nossas coisas. Arrumamos uma pessoa na praça principal que conhecia um casal que alugava uma casinha, quando chegamos ao local vimos que era na rua do hotel onde eu e Fernanda passamos a nossa lua de mel. Foi bem interessante.
Curtimos bastante Bariloche, conhecendo diversos lugares, observando as montanhas com suas pontas nevadas e descansando à beira do lago Nahuel Huapi.
De lá cruzamos para o Chile, por Villa Angostura e fomos para Puerto Varas, e de lá para Pucón. Pucón tem uma cultura de praia muito legal, com o vulcão Villarrica ao fundo. Mergulhamos em uma praia com pedras vulcânicas e água de degelo. Foi uma ótima experiência. E a cidade é bem bonita. A água do mar não era tão convidativa, mas o camping tinha piscinas aquecidas e as crianças se acabaram.



12 Litoral Chileno
Saindo de Pucón fomos a Los Angeles, aos pés da cordilheira. Nossa intenção era subir a cordilheira para Mendoza e descer para o Atacama mais a frente. No hotel que escolhemos em Los Angeles, conversamos com o rapaz da recepção que falou muito bem do litoral chileno, não conhecíamos muito do litoral, mas as fotos que ele mostrou nos convenceu a mudar nossa rota.
Ponderamos também que seria mais interessante para as crianças seguir por um caminho um pouco mais quente, para variar. A Patagônia tinha sido muito intensa para eles.
Saindo de Los Angeles rumamos para La Serena. Uma vila com arquitetura espanhola, muito agradável. A cidade estava bem cheia. Ficamos em uma pousada muito legal com um pátio interno muito arrumado. Depois, seguimos para a Bahía Inglesa, onde ficamos em um camping na beira da praia. O camping estava bem cheio, com muitas crianças e percorremos alguns caminhos muito lindos, em volta do local.
Seguimos para o Parque Nacional Pan de Azúcar. Parque incrível onde parece que se está andando de carro na lua. Cortamos por uma estrada dentro do parque. De verdade parece que se está em outro planeta. Saímos do parque e seguimos para Antofagasta.
13 Atacama
Mais um marco e outro lugar muito sonhado em visitar. Chegamos lá junto com a última grande chuva da região, o que deixou algumas atrações fechadas por todo o tempo que estivemos lá.
Mas isso não fez nossa estadia menos interessante, fomos aos Geisers del Tatio, Salar de Tara, Piedras Rojas e diversos outros lugares. Andar pelo Salar de Tara, apenas com o rumo do GPS, sem estradas, sem ninguém ao lado, foi uma experiência e tanto.
14 Carro quebrado saindo do Atacama
Fomos ao Salar de Tara, quando estávamos saindo de San Pedro em direção à Argentina. Quando saímos do salar o 4×4 do carro não desengatava e tivemos um problema que demorou 3 dias para ser resolvido. 3 dias de muita tensão em uma região muito remota e sem assistência. Mas deu tudo certo e conseguimos sair de lá andando de carro.
15 Norte da Argentina
Para resolver o problema do carro precisamos chegar em San Salvador de Jujuy. Queríamos conhecer mais alguns lugares antes de voltar ao Brasil, mas o problema do 4×4, deu uma diminuída na moral da família e fomos só até Humahuaca e depois descemos para Salta.
Salta é incrível e acolhedora. Muitos vinhos, empanadas e alfajores. Depois de tantos dias de deserto, foi bom chegar em uma cidade assim.
16 Foz do Iguaçu
Saímos de Salta, cruzamos o chaco argentino e entramos no Brasil por Foz. Foi ótimo voltar ao nosso país, ficamos em uma pousada com um café da manhã incrível, que não se vê nem na Argentina e nem no Chile.
Conhecemos as cataratas que são um espetáculo à parte e descansamos um pouco. De lá, voltamos para Teresópolis.
Galeria


























































Desafios & Aprendizados
Todos os problemas tem solução
Passamos por alguns apertos nessa viagem. O pior foi o carro quebrar no meio do Atacama. Na hora que o carro quebrou, o desespero tentou tomar conta, mas mantivemos a calma e tudo foi resolvido, da melhor maneira possível.
As pessoas são boas e querem ajudar a gente
Em todos os apertos que tivemos, sempre que precisávamos de alguém para nos ajudar em alguma coisa, todos foram solícitos. Sem exceção. Muitas vezes ficamos presos em nossos mundos, vendo apenas notícias que falam de coisas ruins. Mas quando nos colocamos no mundo, percebemos que ele é majoritariamente bom. E todas as pessoas estão dispostas e querendo ajudar.
Mudar o roteiro pode ser surpreendente
Mudamos o roteiro em alguns momentos, o maior sendo evitar passar por Mendoza e subir pelo norte mais desértico da Argentina, por conta das crianças. Foi surpreendente conhecer o litoral Chileno. Praias lindas, com um povo muito acolhedor. Lugares que nem em foto eu tinha visto. Foi muito gratificante experimentar essa troca, e passar por lugares que não estavam no meu radar. Foi uma surpresa muito positiva.
Se preparar é importante, mas partir é mais importante
Será que o carro é bom o suficiente? Será que não precisamos de um mais potente, mais novo? Será que temos roupas o suficiente? Será que temos dinheiro o suficiente? Será que estamos prontos para entrar em uma viagem deste tamanho?
São perguntas que sempre estão rondando nossa mente. Sempre que acontece um problema, dizemos: “Olha lá, eu sabia que precisava de tal coisa, ou de tal coisa”. Mas a realidade é que precisamos apenas juntar o que temos. E partir.
Claro que o seu carro tem que estar revisado e direitinho, claro que precisa de roupa de frio se for para algum lugar que faça frio. Mas a maioria das coisas a gente consegue resolver no caminho. A não ser que a gente vá para o meio do mato, você vai ter assistência a maior parte do tempo.
Em todos os lugares moram pessoas, que vivem e têm os mesmos problemas que você. Em todos os lugares você terá a opção de gastar muito dinheiro ou economizar. Tudo tem solução e escolhas.
Por isso, hoje eu acredito que ir é mais importante do que se preparar.






Crianças pequenas podem se comportar bem em viagens longas de carro
Rodávamos 1.000 km por dia, nos dias mais longos, isso se transformava em 9/10 horas dentro do carro. Óbvio que em alguns momentos eles ficavam super entediados e tivemos alguns problemas. Mas no geral, levamos jogos, levamos revistas, levamos papel e lápis para pintar. Inventamos jogos para fazer enquanto estávamos dirigindo. Foi uma viagem com zero telas. E no geral o saldo foi muito positivo.
Dentro do carro eles ficavam muito bem. Quando saíam, algumas vezes era um problema, por conta da energia contida. O Theo, no Atacama, saiu do carro em Piedras Rojas, que fica a 4.000 metros de altitude e saiu correndo sem parar. Depois de um tempo ele voltou e me disse: “Papai, acho que vou dormir um pouquinho, estou muito cansado”. Correr a 4.000 metros de altitude não é façanha para todos. Mas ele dormiu e acordou pronto para outra.
Crianças são mais fortes e resilientes do que imaginamos
Theo tinha 6 anos e a Thais 4 nessa viagem e, no geral, temos a sensação de que as crianças, ainda mais nessa idade, não são tão fortes, que elas parecem frágeis, mas não foi o que aconteceu. Eles foram incrivelmente fortes, caminharam, foram na altitude, ficaram paradas em um carro quebrado no meio do nada no Atacama, dormiram diversas noites em barracas, mergulharam em águas geladas, foram empurradas pelos ventos e aguentaram horas a fio dentro de um carro.
Passaram por tudo isso com um sorriso no rosto e um olhar curioso. Se isso não é ser forte, eu não sei o que é. Acredito que muitos adultos não conseguiriam passar por tudo que eles passaram e ainda se divertirem.
Se abrir ao inesperado traz ótimas surpresas
Em diversas ocasiões pegamos dicas com pessoas nos lugares onde passamos. Dicas de coisas para fazer, caminhos a seguir, locais para dormir ou comer. Uma das vezes mudamos completamente a nossa rota. Tínhamos um roteiro, mas se gostávamos de um lugar, parávamos e ficávamos mais tempo. E em todas elas não nos arrependemos.
Deixar as coisas acontecerem é onde a magia acontece, na minha opinião. Quando planejamos tudo com antecedência, não deixamos espaço para o inesperado. Não que isso não seja ruim, mas é muito certo que coisas incríveis vão aparecer no caminho e se não estivermos abertos a mudar, podemos perder muitas oportunidades ótimas.
Você não sabe do que é capaz, até tentar fazer
Quando saímos para essa viagem, eu e Fernanda não tínhamos quase experiência com carro 4×4. Estávamos com crianças pequenas e não sabíamos como elas se comportariam em longos dias dentro do carro. Tínhamos uma centena de dúvidas, que foram sendo apagadas a cada quilômetro que percorríamos.
Depois de todos os problemas que passamos, tenho certeza de que eu – ela e as crianças também – somos capazes de fazer qualquer coisa. É só manter a calma e respirar fundo algumas vezes.