Eu sempre sinto que um dia passado na praia é um dia bem usado. Eu sempre termino com uma sensação de calma e tranquilidade. Eu posso não fazer nada, ficar só sentado na areia apreciando a paisagem. E mesmo assim, quando saio sinto que me fez bem.
Porém, com a nossa evolução, fomos nos organizando em cidades, e essas cidades foram crescendo e crescendo. Com o tempo, até parte da nossa alimentação passou a ser feita em laboratório, muitas delas sem nenhum ingrediente natural. Chegamos a um ponto, onde quase não nos expomos ao contato com ambientes naturais no nosso dia a dia. Até o ar que respiramos passa por uma máquina, que o esfria ou esquenta. A maior parte do dia estamos em ambiente herméticos, com luzes artificiais e, grande parte das vezes, com as cortinas das janelas fechadas, para não causarem reflexo na tela do nosso computador. Estamos sempre sentados curvados em cadeiras. Sempre olhando uma tela, seja do computador ou do celular. Como resultado vamos adoecendo, não só pelas exigências atuais da sociedade, mas também por termos perdido nossa relação com a Natureza.
Quando meus filhos eram pequenos, e tinham a oportunidade de brincar na lama, eu lembro de comentar com a Fernanda o quanto eles ficavam calmos e dormiam bem. Percebo até hoje esses efeitos neles. A escola deles segue a pedagogia Waldrof, então o contato com o lado de fora é parte integral do ensino. Isso faz com que as tardes em casa sejam mais calmas. Se ficamos em casa o dia todo, eles ficam agitados e confusos. Se damos uma volta de bicicleta, vamos a praia ou cachoeira melhora bastante.
Não sou só eu que pensa assim, em 1989 Rachel e Stephen Kaplan propuseram a Teoria da Restauração da Atenção (do livro The Experience of Nature: A Psychological Perspective). Ela sugere que o contato com a natureza pode ajudar a restaurar nossa capacidade de atenção, isso significa que se estivermos estressados e formos para qualquer ambiente onde tenha uma árvore, já aliviamos um pouco esse estresse. Diversos outros estudos estão comprovando os benefícios deste contato. 1 horinha de caminhada em ambientes naturais já é o suficiente perceber as melhoras na redução do nível de estresse. Um estudo diz que até, em ambientes virtuais é possível ver melhoras. Outro estudo demonstrou que o contato com a Natureza pode melhorar a nossa criatividade e ajudar nessa resolução desses problemas. Outro demonstra que você pode ter melhora no sono, se expondo a este ambiente. Todos esses benefícios são sentidos até depois da atividade. Em muitos casos, dias depois ainda sentimos os efeitos. Outro estudo diz que após uma volta em um parque, as crianças se concentram melhor.
Os japoneses já receitam banho de floresta para melhorar a saúde mental de seus cidadãos. Em um estudo eles perceberam diversos benefícios, como redução do cortisol no sangue, redução de sentimentos de ansiedade e depressão, melhora no sistema imunológico, redução da pressão arterial e diversos outros. Outro estudo corrobora os achados.
Se você gosta de fazer exercícios, estudos demonstram que fazê-lo ao ar livre tem diversos benefícios em relação ao exercício indoor, como menor percepção de esforço, além de todos os outros já mencionados.
Por isso que eu sempre tento aproveitar a quietude matinal para fazer meus exercícios, e sempre em meio a Natureza. Já tentei fazer academia algumas vezes na minha vida, mas não consigo dar continuidade. Já ao ar livre, estou sempre voltando. E este é o motivo deste espaço existir.
Não deveriam ser necessário criar estudos para falar o óbvio. Nunca estivemos tão conectados com a tecnologia, mas tão desconectados do que é natural. Nosso corpo segue o ciclo circadiano, que é regulado pelos ritmos da natureza. E para ele funcionar corretamente temos que estar, no mínimo, expostos ao Sol, por um período do dia. O Sol, que nos faz produzir vitamina D, quando expomos nossas peles ao seu contato. Ele, que também faz as plantas e árvores crescerem e fazerem a fotossíntese, para nos fornecer oxigênio. Muitas outras – plantas e árvores – nos alimentam. Temos os rios que nos fornecem a água que bebemos. Houve um tempo em que éramos parte integral deste ambiente, de onde tirávamos tudo para nossa sobrevivência.
Dessa maneira, vale a pena – pelo menos – testar estas hipóteses. Não há nada a perder, mas há muito a ganhar. Faz todos sentido voltar a se conectar com o ambiente de que nós viemos. Faça o experimento e veja como se sente. Tenho certeza de que não vai se arrepender.