Estes dias fui assistir a um episódio de uma série na Netflix. Terminou o episódio e na sequência começou outro e de repente outro. Você entra no youtube, a mesma coisa acontece. Você passa a setinha do mouse em cima de um vídeo ele já começa a reproduzir. Instagram, não é diferente, a tela dele não tem fim, é só rolar. Você pode rolar para sempre, ele nunca vai parar de apresentar conteúdo. O algoritmo não para nunca. Ele sempre tem alguma coisa, que vai te “fazer feliz”, para te apresentar. O objetivo dele é deixar você feliz, e colado na tela.
Para as pessoas por trás do algoritmo, o importante é ficarmos atentos a tela o máximo que pudermos, mas não no mesmo conteúdo, ele precisa que passemos por centenas deles. A cada 2 ou 3, ganhamos uma propaganda. Aquele vídeo ensinando alguma coisa, para a cada 2 minutos e aparece aquele tênis que eu procurei naquele outro site. E ele me segue em cada rede que eu entro. É aí que essas pessoas ganham dinheiro, e nós nos tornamos o produto. Portanto esse algoritmo, ensinado a valorizar vídeos curtos, a mostrar mais conteúdos parecidos com a sua última interação, nos rouba a atenção e seguimos rolando nossas telas, sendo o produto que eles desejam. Não temos muita culpa, as pessoas por trás, gastam milhares e milhares de dólares em pesquisas de como nos deixar grudados nos feeds infinitos. Eles sabem como hackear o nosso cérebro.
Com todos esses vídeos curtos e postagens infinitas, com conteúdos que não são tão bons na maioria das vezes. Nós “perdemos” o nosso tempo. Em algum momento olhamos o relógio e falamos: “Nossa, já são 18h. O tempo está passando muito rápido, não fiz quase nada hoje”. Não é o tempo que está passando mais rápido, são essas redes que estão roubando nossa atenção e nosso foco.
E, levando nossas vidas, trabalhando o dia todo, cuidando das crianças, cuidando da casa, em um looping infinito. Pensando nas contas que estão vencendo, queremos mesmo é dar uma fugida da realidade e deixar o tempo passar.
Acredito que possamos fazer diferente, deixar essas redes de lado um pouco e olhar à nossa volta. Eu cresci em um mundo que não tinha nada disso. A televisão só passava conteúdo para “crianças” em determinada hora do dia. Telefone era algo que só ficava em casa, ligado a um fio na parede, tinha até um móvel só para ele. E eu, simplesmente, brincava. O ócio e o tédio me faziam criar brincadeiras. Minha imaginação entrava em ação e o tempo passava, mas passava de uma maneira diferente. Tão diferente que quando minha mãe me chamava para voltar para casa ou avisava que era hora de jantar eu não ficava com a sensação de que o tempo tinha desaparecido, eu sabia onde ele tinha sido gasto, pois eu estava presente no presente. Eu nunca estava atrasado ou adiantado.
Como adultos não somos encorajados a brincar, isso é coisa de criança. Mas podemos descobrir diversas coisas que podem nos ajudar a ficar imersos no tempo presente e não ter mais o tempo roubado por um algoritmo que me transforma em produto.
Aquele livro na estante, aquela vontade de aprender violão, teclado, desenho ou pintura. Todos esses, são ótimos substitutos a essas redes. E não é o tempo que nos falta, pois se pegarmos as estatísticas de tempo que ficamos no celular, vamos ver que temos o suficiente dele, não de sobra, mas o suficiente. Basta deligar a tela, e começar a tirar aquela vontade adormecida em um cantinho do cérebro.